novembro 26, 2009

Na teoria, na prática

Nesses últimos dias tenho reservado um tempo a mais para acompanhar melhor a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, às terras brasileiras. Mas infelizmente, o que tenho visto nos noticiários, em muito maior número do que a própria visita, são notícias sobre vários protextos vindos das mais variadas classes contra a presença desse presidente aqui.
A comunidade judaica protesta pelo fato do presidente Lula receber aqui um muçulmano que negou o holocausto. Ora, besteiras são ditas diariamente, essa não foi a primeira e com certeza não será a última. Estamos abrindo as portas para um líder muçulmano hoje, do mesmo jeito que abrimos as portas para um líder judeu há poucos dias atrás, recebendo o presidente de Israel, Shimon Peres, e em breve abriremos as portas para um líder palestino ao recebermos o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas; não me recordo de ter visto algum protesto contra a presença destes por aqui. O Brasil está cumprindo seu papel como país laico que é, recebendo sem distinções líderes judeus e muçulmanos. Nada além disso.
Partem de dentro do congresso também, discurssos veementes contra o presidente Lula, por estar recebendo no Brasil um líder que chamam de ditador e terrorista. Ora, o Brasil também mantem um programa nuclear em atividade, da mesma maneira que o Irã. A diferença está na conveniência de grande parte da liderença mundial em desqualificar o programa iraniano acusando-o de ter finalidade terrorista; o Iraque foi invadido por possuir armas nucleares, lembram-se: até hoje nada foi encontrado. O Brasil também tem um presidente reeleito, da mesma maneira que o Irã; a reeleição por lá ficou marcada por denúncias de fraudes feitas pela oposição, o que estranhamente não aconteceu por aqui dada a esmagadora diferença entre Lula e Alckmin ao final do pleito.
O Brasil, na sua atual posição de destaque como mediador perante a comunidade internacional está simplesmente fazendo o que deve ser feito, cumprindo seu papel como país em pleno exercício democrático. Aliás, esse é um ponto interessante. Partiram de dois dos principais partidos no cenário nacioanal os protestos contra essa visita: DEM - Democrátas e PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira. Repudiaram a presença de Ahmadinejad no Brasil. Pregaram o isolamento do Irã no cenário mundial e o fim dos diálogos entre esse país e o Brasil. Atitudes claramente anti-democráticas E partem daqueles que carregam a democracia no nome.

novembro 04, 2009

Jogo de um time só

Quanto mais os tucanos demoram a decidir sobre seu candidato à presidência para 2010, mais vai se desenhando um cenário parecido ao de 2006. Dessa vez até melhor. Lula tem projetado para 2010 um crescimento na casa dos 7%, juntamente com um aumento da renda dos trabalhadores e expansão do consumo. Tudo perfeito para quem deseja passar de bandeja toda sua popularidade ao seu candidato, neste caso, candidata.
Dentro do PSDB, novamente Serra cria um impasse de díficil solução. Assim como em 2006, quando empacou a candidatura de Alckmin o quanto pode, agora novamente está atrasando as pretensões tucanas com sua indecisão. Não se lança candidato e nem deixa que Aécio o faça.
Enquanto isso, Lula está declaradamente disposto a fazer das próximas eleições uma avaliação dos seus 8 anos de governo, ou seja, emplacar Dilma como simples continuista de tudo feito por ele. E claro, Serra como o vilão que voltará no tempo ao ponto que FHC parou.
Aproveitando-se de um PSDB completamente paralisado e de seus altos índices, tanto pessoais como econômicos, Lula está pondo seu time em campo há 1 ano das eleições, com esquema de jogo bem definido. E o melhor que ele poderia querer a essa altura do campeonato: ainda não há time adversário do outro lado do campo.

*adaptado do texto de Elio Gaspari na Folha de São Paulo - 01/11/2009