março 22, 2010

Serra aponta seu problema na eleição

Ao assumir sua candidatura à Presidência com aquele jeito José Serra de ser, o governador paulista disse o seguinte:
"O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue bem e até melhore".
Em três frases, Serra conseguiu, ao mesmo tempo, ser honesto na avaliação do governo do adversário, ser também óbvio e, por fim, definiu a imensa dificuldade que terá para vencer a disputa.
De fato, é muito difícil encontrar quem ache que Lula está terminando mal o governo.
Mas uma das principais características do mundo político é a oposição negar-se sempre a reconhecer os fatos quando os fatos são favoráveis ao governo. Serra não caiu nessa tentação.
O problema é o item seguinte, a torcida para que o Brasil "continue bem e até melhore". É o óbvio.
Salvo um ou outro tarado, não há nunca quem não queira que o país melhore. O problema para Serra será provar que ele é a pessoa indicada para fazer o Brasil melhorar.
Imagino que a massa de eleitores se fará a seguinte pergunta: se está bem com Lula, como admite até o candidato a candidato da oposição, para que mudar?
A resposta de Serra será (ou foi) esta: "Pesam as ideias, as propostas e o passado, o que cada um fez, como foi provado na vida pública".
Pode até ser que tais fatores pesem. Mas pouco. Vamos ser sinceros: ideias e propostas servem para debate entre especialistas.
A massa é guiada pela emoção e/ou pelo sentimento pessoal de cada qual. E o sentimento predominante, repito, é o tal ‘feel good factor’, o sentir-se bem que predomina na população/eleitorado.
Passado conta? Talvez. Mas pode contar contra também. Afinal, todas as pesquisas mostram que a maioria do eleitorado está hoje mais contente do que quando Serra fazia parte do governo.

*texto de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo - 21/03/2010

março 16, 2010

Campanha declarada x Campanha (ainda) velada

Nas idas e vindas da ainda não declarada campanha eleitoral, petistas e tucanos tem medido forças de maneira exaustiva em busca de pontos percentuais nas pesquisas de intenção de votos. Para Dilma e os petistas, vale a dianteira na corrida presidencial que consolidaria sua ascenção e deixaria a candidata de Lula na posição que o partido planejava conseguir somente em junho. Para Serra e os tucanos, seria a chance de novamente se distanciar da petista e acalmar os ânimos dos seus próprios correligionários em torno da sua candidatura.
Com esses objetivos claramente definidos, ambos se lançaram numa impressionante rotina de eventos públicos, expondo-se ao máximo aos holofotes da mídia e abusando do uso da máquina pública em prol de suas respectivas candidadturas. Acabam por abusar também da paciência da Justiça Eleitoral. O que se tem visto é uma clara afronta às leis eleitorais desse país, que proíbem qualquer ato com fim eleitoreiro de algum ocupante de cargo público. Se ainda não inventaram uma nomeação que drible essa lei, Dilma e Serra se enquadram perfeitamente nessa condição.
Pelo lado petista, Lula viaja o Brasil com Dilma a tiracolo, inaugurando obras, participando de eventos dos mais variados tipos. Mostrando aos Brasil que o elegeu a candidata que agora ele quer ver eleita. Se Lula e Dilma justificam as viagens pela posição de caratér federal que ocupam, o mesmo não pode ser feito por Serra. Governador do estado de São Paulo, além de também se lançar numa rotina interminável de inaugurações, muitas delas inacabadas; a expansão da linha verde do Metrô, que contará inicialmente com 3 estações, foi inaugurada somente com 1 delas concluída, e outras 2 longe ainda do término; e outras ainda na fase de idealização; inaugurou a MAQUETE de uma ponte entre Santos e Guarujá; José Serra tem participado de ínumeros eventos em outros estados, em sua grande maioria, governados por PSDB e DEM. O números comprovam: Serra já realizou em 2010 o triplo de viagens realizadas em todo ano de 2009. Para um ocupante de cargo estadual, qual a justificativa para tantas aparições em eventos que não cabem à sua administração??
Resumindo tudo isso a simples eventos de caratér correligionário, o ainda quase talvez futuro ex pré-candidato à presidência tucano vem driblando a justiça eleitoral numa campanha velada e mais do que declarada. Mais até do que a própria campanha também não declarada dos petistas. Prova disso, mais até do que suas viagens, são as propagandas eleitorais do governo do estado de SP. Atenção: propagandas do GOVERNO DO ESTADO DE SP, e não do partido PSDB. Propagandas financiadas com dinheiro público, enaltecendo as obras do gov. José Serra e veiculadas exaustivamente em horário nobre na TV. E mais: veiculadas em estados do sul e nordeste do país, além é claro, de SP. Não consigo ver algum interesse de um nordestino ou sulista em saber que a marginal está sendo duplicada ou que a Sabesp aumentou a % de tratamento de esgoto em cidades paulsitas.
Fatos curiosos em torno disso tudo se deram simultaneamente nos últimos dias. Ao mesmo tempo que foi ao ar uma propaganda eleitoral do PT, mostrando falas de Dilma e Lula, os tucanos tomavam conhecimento de uma pesquisa encomendadas por eles próprios e que deve ser divulgada nos próximos dias, se a inconveniência não lhes impedir, na qual Dilma já aparece em real empate técnico com Serra, porém dessa vez na dianteira com 1% de vantagem. Nas horas seguintes, serristas de plantão se juntaram e entraram com uma representação no TRE-SP para impedir a propaganda petista de ir ao ar novamente. E vejam só como são as coisas: o pedido foi deferido quase que imediatamente. Ao passo que ínumeras representações de mesmo caráter feitas pela oposição paulista foram sumariamente negadas. Paralelamente, a situação paulista aprovava em caratér de urgência a reabertura das investigações do caso Bancoop envolvendo o petista João Vaccari, e arquivado desde 2006, não menos curiosamente após a reeleição de Lula. Lembremos que a CPI da Alstom, com inúmeras provas de irregularidades contra as obras do metrô fora abafada numa incrívelmente rápida manobra de tucanos e demos paulistas.
Valendo-se dos "simples eventos partidários de caratér nacional", da "necessária divulgação das realizações do governo, de interesse da população" (até mesmo do nordeste e sul), e do "cumprimento pleno das leis", definição essa dada por tucanos à incrível coincidência dos fatos pró-Serra e contra-PT, o tucanato consegue tirar proveito do virtual desinteresse de Serra pela campanha e usa vazio deixado pela falta de discursso tucano para colocar em cheque a candidata do governo e seus aliados de campanha. Temporaria e oportunamente, sem risco de réplica; qualquer sinalização declarada de crítica à Serra poderá ser facilmente contestada do alto do muro tucano: "José Serra não é candidato". Por mais que a declaração mais aguardada pelos serristas seja exatamente o oposto

março 01, 2010

Dilma x ????

A nova pesquisa eleitoral publicada ontem pelo Datafolha soa praticamente como um ultimato à oposição, e principalmente ao dito pré-candidato José Serra, para que oficialize a sua candidatura e entre de forma definitiva e objetiva na disputa presidencial.
Os números apresentados neste novo levantamento consolidam a ascenção da candidata petista e a estagnação de Serra numa faixa de intenção de votos que na verdade nunca foi muito diferente. O tucano, que alcançou pico de 38% nas pesquisas anteriores agora recua para 32%, enquanto a candidata petista, que nas primeiras pesquisas aparecia em terceiro lugar com poucos 13% agora alcança 28%. Analisando as pesquisas desde seu início, tem-se uma diminuição gritante na diferença entre os dois candidatos: de 25% do início para apenas 4% agora.
É cedo ainda para se afirmar, mas essa pesquisa pode indicar a reação a qual toda ação está sujeita. Neste caso, a do ex-presidente FHC, que a contragosto dos próprios tucanos, entrou na disputa e chamou para si próprio a tarefa de fazer o que nenhum candidato anterior havia feito: defender os seus oito anos de governo. Aplaudida por todos diante dos holofotes, as palavras de FHC contra Dilma e o governo Lula deixaram Serra e seus aliados extremamente descontente e intensificaram a tensão interna em torno da sua campanha. De acordo com eles, a atitude de FHC trouxe à tona um debate que a oposição vinha tentando evitar a todo custo: a comparação entre os dois governos. Debate esse que Lula e Dilma vinham tentando emplacar a todo custo, e graças ao tiro no pé do ex-presidente, parece tornar-se a partir de agora um dos focos da campanha. Como a oposição conseguirá daqui pra frente evitar um assunto que uma das suas principais figuras fez questão de citar? A disputa eleitoral favorável aos petistas, que até então não enfrentaram uma oposição de fato, pode agora ter tomado definitivamente o rumo desejado por eles, e sempre temido pelos tucanos.
A lentidão de José Serra em assumir sua candidatura pode se dever à fatos que vão além do simples debate de campanha. Serra sofre com um teto eleitoral, e tudo indica que não crescerá muito além dos percentuais já apresentados. Prova disso é uma outra pesquisa, indicando que Serra é conhecido por 98% do eleitorado. Dilma, conhecida por 84%, apresenta na teoria um potencial de crescimento considerável. Outro complicador é a debandada do mineiro Aécio Neves, peça fundamental na composição da chapa tucana como vice de Serra, e que desde janeiro abandonou a candidatura à presidência e se mostra decidido a brigar por uma vaga no senado. Sua presença na composição da chapa comprovadamente traria um incremento nas intenções de voto a favor dos tucanos. Pesa ainda contra Serra, seu próprio medo de um novo revés ma disputa pelo plantalto, o que a esta altura praticamente encerraria suas pretensões de se tornar presidente; derrotado agora, com certeza a aposta tucana para 2014 não seria nele, e sim em Aécio.
Com a reeleição ao governo de SP assegura já no 1º turno e a eleição à presidência cada vez mais ameaçada, Serra tem um enorme dilema nas mãos e pouquíssimo tempo para se decidir. Se demorar a assumir sua candidatura, pode ver seu nome em segundo lugar já nas próximas pesquisas. Se isso acontecer, é provável que a partir de abril seu nome já nem figure mais entre os presidenciáveis e passe a liderar com folga e de maneira oficial a lista dos candidatos ao Palácio dos Bandeirantes.