A desorientada polícia de Alckmim
Informado de que em abril o governo federal iria anunciar seu
programa nacional de combate ao crack, o governador Geraldo Alckmin
procurou sair na frente e logo depois do Réveillon deflagrou
uma operação para livrar São Paulo da chamada Cracolândia, símbolo
maior do problema das drogas no Brasil. Os paulistanos foram
surpreendidos na terça-feira 3 com a notícia de que mais de uma centena
de PMs estava tomando alguns quarteirões na região central da
maior cidade do País, que, de forma inaceitável, há anos vêm sendo
ocupados por uma legião de dependentes químicos de crack e por pequenos
traficantes. Imediatamente, vozes mais sensatas passaram a
criticar a ação. Antes de ser uma questão de polícia, a Cracolândia é
uma ferida aberta que expõe diariamente a falência da saúde pública no
Estado e no País. Um problema social que os seguidos governos tucanos em
São Paulo não conseguiram equacionar. Ao usar policiais contra figuras
cadavéricas em flagrante processo de definho por causa das drogas,
o governo conseguiu “espalhar” a Cracolândia para asruas vizinhas e
mostrou que sua polícia está tão desorientada quanto o PSDB para
escolher seus candidatos. Mais de dez dias depois de iniciada, a
contabilidade da operação é um tiro no pé. Dezenas de comerciantes e
centenas de moradores dos bairros próximos aterrorizados, diversas
denúncias de agressões praticadas pelos homens fardados contra os
desnutridos e imagens de policiais disparando contra os viciados
correndo o mundo. De concreto, nenhum grande traficante preso, menos de
500 gramas de crack apreendidos e o vexame de constatar que o Estado e a
Prefeitura de São Paulo não dispõem de uma estrutura capaz de atender
dignamente a um punhado de dependentes.
O Ministério Público definiu a ação como “desastrosa” e o caso já está
na pauta das entidades internacionais de Direitos Humanos como mais um
episódio que mancha a reputação do Brasil. O governo tentou se
justificar afirmando tratar-se de uma ação articulada, pois depois da
polícia viriam os agentes sociais e as internações. Logo se percebeu que
a falada articulação está bem próxima da harmonia mostrada pelos
bonecos de ar de propaganda em postos de gasolina. A vice-prefeita de
São Paulo, Alda Marco Antônio, declarou que apenas em março um galpão
preparado para receber e tratar os dependentes da Cracolândia estará
pronto para funcionar. Se não fosse a trapalhada pressa do governador, é
possível que hoje os traficantes não estivessem rindo do governo – e
vendendo pedras de crack na frente dos policiais – e os
contribuintes estivessem mais satisfeitos.
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