junho 24, 2012

PSDB e PIG: o filho mimado e o pai coruja

Quem aqui nunca presenciou ou ouviu falar de um criança assim? Aquele filho mimado, que tem sempre tudo à mão sem o menor esforço, que esperneia quando recebe um não como resposta, que inventa mentiras para esconder as traquinagens que aprontou ou conseguir o que deseja. E o pai? Aquele pai dedicado, extremamente carinhoso e cuidadoso com seu filho, que acaba por somente enxergar o que lhe convém; seu filho jamais fizera nada errado. que alguém ouse criticá-lo diante deste pai e conhecerá sua fúria. No fundo pode até ser que este pai saiba das travessuras do filho, mas este é assunto para se resolver dentro de casa, sem que ninguém veja. 
Pois é justamente assim que pode ser definida a relação entre PSDB e PIG: o filho apronta das suas mas o pai corre em sua defesa, o filho bate o pé querendo alguma coisa e o pai faz de tudo para atender o seu pedido. Exemplo mais recente, e comprobatório, ocorreu na composição das coligações para a disputa paulistana à Prefeitura. Serra aliou-se com o PR de Alfredo Nascimento Valdemar da Costa Neto, e queria o apoio do PP de Paulo Maluf, e esbravejou aos quatro cantos quando viu Maluf se aliar a Fernando Haddad. Mas essa não seria uma reação a ser demonstrada em público. Para este ficou reservada a indignação e o repúdio de Serra e seu partido à aliança PT-PP que por conveniência do papai Globo Folha de São Veja foi personificada em Lula-Maluf, atendendo aos interesses do filhinho mimado PSDB.
Ocorre que o discurso moralista, quase sempre oportunista, dos tucanos está a quilometros de distância das atitudes praticadas por estes no passado não muito distante, en alguns casos até muito recente. E o papai PIG (apelidinho carinhoso), um jornalista sério que sempre prezou pela ética e pela verdade acima de tudo, anda encontrando muita dificuldade em defender seu filho amado diante das travessuras que ele vêm aprontando.
O recurso que a quadrilha midiática usa para tal tarefa não é novo, na verdade é o mesmo de sempre. Para o PT, ataques ferozes. Para o PSDB, o silêncio dos inocentes. Ou alguém aqui leu ou ouviu algum dos Reinaldos ou Mervais ou Catanhêdes lembrar que Maluf, agora apoiando o PT, e PSDB, agora criticando ambos, juntos  já proporcionaram aos paulistanos encontros com esta foto em cada esquina da cidade.




E a falta de coerência do PSDB não para nas críticas à aliança PT-PP. Como explicar aos seus eleitores e à opinião pública a aliança do partido com o PR, do ex-ministro Alfredo Nascimento e de Valdemar Costa Neto, poucos meses após estes terem sido alvos de constantes ataques e acusações vindas do ninho tucano após as denúncias de fraudes no Ministério dos Transportes? À época, as falas e articulações tucanas contra o Alfredo Nascimento e Valdemar foram repercutidas prazerosamente pela mídia (como sempre):

"Tem que ter o afastamento e a punição" - Sergio Guerra, presidente do PSDB, exigindo a saída de Alfredo Nascimento, presidente do PR, do cargo de ministro

"É como matar os ratos, mas não dedetizar a casa" - Dep. Fernando Franceschini do PSDB, comentando a saída de Alfredo Nascimento e a permanência do PR na pasta do Ministério dos Transportes

"Mudam as moscas, o fedor é o mesmo" - Senador Aloysio Nunes do PSDB, compartilhando a opinião do Dep. Franceschini

"PSDB pede investigação de ministro dos Transportes" - Estadão em 05 de julho de 2011
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,psdb-pede-investigacao-de-ministro-dos-transportes,741075,0.htm

"Líder do PSDB defende a saída do ministro Alfredo Nascimento" - Estadão em 05 de julho de 2011
http://radio.estadao.com.br/audios/audio.php?idGuidSelect=90476085A08B4B4292DAC83CA2BD8B92

"Relator defende processo contra Valdemar da Costa Neto" - Estadão em 28 de setembro de 2011
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,relator-defende-processo-contra-valdemar-da-costa-neto,778711,0.htm



Diante dos veementes protestos tucanos contra Valdemar, Nascimento e o PR, uma aliança entre os dois partidos certamente estaria fora de cogitação. Mas como coerência e PSDB ainda não foram apresentados, eis que surgem Serra e Alfredo Nascimento juntos, sorridentes, trocando abraços e palavras de carinho, no encontro que selou a aliança entre os dois partidos.





Mas como as travessuras do filho sempre são acobertadas pelo paizão coruja, a mídia simplesmente ignorou a aliança. Ignorou a foto. Ignorou a incoerência enraizada no ninho tucano.










junho 22, 2012

Se fosse FHC, seria um golpe de estado


Presenciamos hoje um escandaloso golpe de estado no Paraguay que retirou Fernando Lugo do cargo para o qual fora eleito democraticamente. Pregando uma falsa democracia, a oposição paraguaia tramou e executou o golpe em menos de 24 horas retirando Lugo do poder e empossando o seu vice, articulador do movimento golpista. 

O motivo alegado pela oposição: o confronto entre forças armadas e integrantes do movimento sem-terra paraguaio que vitimou 9 camponeses e 8 soldados. A direita brasileira está aplaudindo de pé o golpe paraguaio, com seus expoentes midiáticos destilando pensamentos reacionários contra a esquerda e o movimento sem-terra. Mas como a mídia que representa a direita brasileira não consegue fugir ao seu passado , ao defender o golpe e sua motivação acaba dando mais um tiro no próprio pé. 

Completaram-se em 17 de abril de 2012 dezesseis anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará.
Em 1996, na chamada curva do "S", 21 sem terras foram assassinados e 169 ficaram feridos depois de uma ação da Polícia Militar para conter os manifestantes que, após dias de marcha, protestavam na rodovia PA-150. 

Seguindo a lógica da velha mídia, um confronto entre camponeses e forças armadas é motivo mais que suficiente para um "processo constitucional de impeachment". O que dizer então de um massacre de camponeses por forças armadas? Nada...não se disse nada, não se fez nada. FHC não foi acusado por nada, não sofreu ataques vorazes da mídia, não sofreu processo de impeachment. 

O que Fernando Lugo sofreu hoje foi um "processo constitucional e democrático". FHC sim teria sofrido um golpe de estado. 

Segue abaixo um vídeo produzido pela TV Coletiva em 2010 relembrando o massacre de Eldorado dos Carajás.

junho 12, 2012

Globo usa JN para defender PSDB e atacar PT

 

 O PSDB está no centro da CPI do Cachoeira com o envolvimento mais do que provado do governador de Goiás Marcone Perillo como o bicheiro Carlinhos. As várias gravações telefônicas divulgadas pela PF que jogam o tucano no olho do furacão da CPI não foram merecedoras de destaque pelo Jornal Nacional.

Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal está "sendo envolvido" em denúncias desde o caso mal contando pela Veja e repercutido exaustivamente pela Globo que resultou na queda do Ministro dos Esportes Orlando Silva. Sempre denúncias vazias.

Com a iminente convocação de Perillo para depor na CPI, a Globo tratou de alimentar os tucanos com munição para que os próprios viessem aos microfones da própria esbravejar e exigir também a convocação do gov. Agnelo. O motivo: a citação de nomes dos escalões inferiores do governo do Distrito Federal nas gravações da PF no caso Cachoeira. Resultado: ambos tiveram suas convocações aprovadas. Perillo num dia, e Agnelo no dia seguinte.

Hoje, no dia em que Perillo depôs por mais de oito horas, o JN armou uma edição a altura da tropa de choque tucana. Do longo depoimento dado pelo tucano goiano, recebeu destaque da Globo os segundos em que se fez da vítima ao ser questionado pelo relator Odair Cunha sobre seus sigilos bancários e telefônicos. Ao final, o texto fez questão de ressaltar os aplausos que Perillo recebeu ao final do depoimento. Só esqueceu de explicar que os aplausos partiram de um grupelho de assessores que foram levados à sessão pelo próprio Perillo para cumprir justamente esse papel.

Logo em seguida, em uma longa matéria, colocou o gov. Agnelo na posição de um acusado que deve várias explicações e já escalou os deputados do PT a atuarem na sessão de amanhã como uma espécie de tropa de choque com o único e exclusivo objetivo de tentar evitar  a  revelação completa de todo o esquema de corrupção em que está envolvido o gov. do DF. Como não podia deixar de ser, a matéria-sentença da Globo foi complementada por um catado de falas e imagens desconexas e requentadas de reportagens passadas.

Fechando em grande estilo a edição desta noite, uma aula de ética jornalística (a ética global né), o JN exibiu uma curta entrevista do ministro do Supremo Ayres Britto na qual ele afirma que a data do julgamento do mensalão não foi marcada sobre pressão. Curiosamente, em meio a dois ou três gravadores de rádios estatais, somente o microfone global figurava diante do ministro. Antes da matéria, Bonner antecipou com uma firmeza vitoriosa a fala de Ayres Britto, que serviu perfeitamente para a Globo fazer sua auto-negação, após uma semana de intenso bombardeio sobre a tal "cortina de fumaça" que Lula tentara jogar sobre o STF. Como se quisesse dizer: "viram só blogueiros sujos, NÃO foi pela nossa pressão que a data foi marcada". Como se a fala do ministro fosse um tapa com luva de pelica na cara dos "blogueiros sujos".

*Em tempo: a apuração do caso de corrupção em que a Veja e Globo envolveram o ex-ministro Orlando Silva foi arquivado hoje pela Presidência pelo motivo óbvio, a ausência de qualquer prova. Nota-se que a auto-negação somente é praticada pela Globo quando lhe é conveniente.





junho 11, 2012

A balança de Gilmar Mendes

 

O símbolo que melhor representa a Justiça é a balança. Demonstra a sua imparcialidade para impor o exercício do direito e a igualdade para ponderar os interesses das partes em litígio. Espera-se então que todo e qualquer homem que se disponha a exercer o Poder Judiciário tenha em vista o seu compromisso irrefutável com os princípios da "balança".

A Constituição Federal estabelece que um Ministro do STF deve ser escolhido dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada, cuja nomeação pelo Presidente da República fica condicionada à aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal. Nenhuma dúvida há em relação aos requisitos puramente objetivos: cidadão brasileiro, idade superior a 35 e menos de 65 anos. Agora, em relação aos demais requisitos: notório saber jurídico e reputação ilibada, esses sim têm nos levado a cada vez mais questionamentos.

Não é de hoje que o Ministro Gilmar Mendes vêm se envolvendo em polêmicas, ora por suas decisões controversas e dissonantes dentro do STF, ora por suas falas desmedidas, ou ainda por suas relações de coleguismo com certos figurões da política nacional que despertam grande estranheza até mesmo entre seus pares.

Quem não se lembra quando, durante uma ríspida discussão com o Ministro Joquim Barbosa na corte do Supremo, este levantou suspeitas sobre as relações de Gilmar Mendes com personalidades públicas do Mato Grosso. "Vossa Excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso" foram as palavras de Barbosa. Quem sabe não fosse a grande admiração que o Min. Mendes desperta na grande mídia, a suspeita de Joaquim Barbosa teria sofrido maior repercussão e até levasse a algum tipo de apuração. Mas nada foi feito a respeito.

A reputação ilibada de Gilmar Mendes voltou a ser questionada quando aproveitando-se do cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal, ocupado interinamente diga-se de passagem, tirou da prisão o banqueiro Daniel Dantas  dando uma canetada no meio da noite. Na ocasião, Dantas havia sido preso após a operação Satiagraha da PF. Curiosamente, a grande mídia não demonstrou qualquer sinal de indignação com a decisão do Ministro e ainda armou-se numa campanha contra o então delegado Protógenes Queiroz, que comandou a operação.

Mais uma vez com o apoio da grande mídia, Gilmar Mendes lançou acusações sobre a PF alegando que estava sofrendo grampos telefônicos em seu gabinete no STF. A imensa repercussão do caso pelos amigos de Gilmar (leia-se Globo, Veja, Folha, Estadão) resultou no afastamento do diretor da ABIN Paulo Lacerda. O caso esfriou e até hoje nenhuma prova foi encontrada para ratificar as acusações de Gilmar.

Longe dos holofotes há algum tempo, mais precisamente desde as eleições de 2010 quando foi flagrado em ligações telefônicas com José Serra em plena campanha eleitoral, eis que Gilmar resolveu novamente dar as caras nas páginas e câmeras dos seus amigos. E dessa vez seu adversário foi escolhido a dedo (talvez pelos seus amigos): ninguém menos que o Presidente Lula.

Numa estranha reação de indignação retardada, trinta dias após o ocorrido, Gilmar Mendes reuniu sua tropa de choque da mídia para acusar Lula de pressão e chantagem por conta do julgamento dos envolvidos na CPI dos Correios. Sofrendo revés do próprio Lula e da sua única "testemunha" Nelson Jobom, que negou as acusações de Mendes, este patinou nas próprias palavras e as acusações revoltadas se transformaram em interpretação subjetivas do que Lula supostamente teria dito. Mas longe de perder a pose, Gilmar Mendes continuou a falar. E falou demais. E falou como um tucano de longa data. Citou o julgamento do mensalão, medo dos petistas, tentativa de intimidação dos juízes, ameaça ao poder judiciário.

Mas desta vez, diferente das outras, o tiro no pé que a Veja atribuiu ao PT na capa de uma defecação recente foi dado sim pelo Ministro Gilmar Mendes. A sua exposição na mídia trouxe a tona um grave denúncia de um ex-sócio, divulgada pela revista Carta Capital com a propriedade jornalística que se espera de um veículo sério de comunicação. Gilmar é acusado pelo ex-sócio de desvio de recursos e sonegação fiscal no Instituto de Direito Público, uma escola, nos arredores de Brasília. O processo que corria em segredo de justiça desde 2011 foi curiosamente encerrado com custos totais de aproximadamente 8 milhões de reais bancados pela parte acusadas, ou seja, Gilmar Mendes.

Como vemos, a balança do Ministro Gilmar está longe de representar os conceitos idealizados pelos gregos quando a escolheram como o símbolo maior do exercício da Justiça. A balança do Min. Gilmar anda bastante desequilibrada. E pesa para o lado de interesses nada republicanos do grupo que o colocou no cargo que ocupa.